Tô cansado! (Carlucio Bicudo – registro 969225 – livro 5 B)
─ Alfredo, vá ao supermercado pra mim?
─ Ah, mãe! Estou tão cansado!
─ Ai... Ai... Cansado de quê, Alfredo?
─ Mãe, a senhora pensa que não cansa ficar o dia todo batendo pernas?
─ Alfredo, você é de mais meu filho. Tão novo e já cansado. Pelo jeito já nasceu cansado. Não é?
─ A senhora, diz isso porque não brinca com pipas e nem de pique esconde. Queria ver a senhora, disputando corridas com o Luís Pesão.
─ Deixe de bobagem, moleque! Tenho muito que fazer todos os dias. Lavo, passo, cozinho, arrumo a casa e de quebra, ainda tenho que por você para tomar banho todos os dias.
─ Ué! A senhora não se cansa desta trabalheira toda?
─ Claro que sim, meu filho. Mas tenho que fazer. Se não fizer. Quem fará o meu trabalho?
─ Deixe para o papai, fazer.
─ Seu pai? Coitado! Passa o dia todo pegando no pesado, lá na fábrica. Quando chega em casa. É mais do que justo que descanse. Para começar tudo de novo no outro dia.
─ Pois é. O meu pai, a senhora diz que vive cansado. E eu? Por que não posso me cansar? Afinal, todos os dias eu corro para esticar as pernas. Tento dominar o vento com as minhas pipas multicoloridas.
─ É pelo jeito... Você anda muito ocupado mesmo. Não é filho?
─ E como. A senhora não sabe o trabalhão que dá. Ficar contando carneirinhos ou descobrindo novos animais escondidos nas nuvens. E contar estrelas durante a noite? Como é cansativo.
─ Já vi tudo. Eu mesma terei que ir ao supermercado. Esse menino, pelo jeito. Anda com a mente ocupada de mais.
─ Ainda bem que a senhora entendeu, mamãe. Eu ainda tenho que descobrir um jeito de mudar as cores do arco-íris. A senhora não sabe o trabalhão que dá... Ficar pensando num jeito para que isso seja possível. Isso dá uma canseira.
─ Toma tento, menino. Não ta vendo, que isso é praticamente impossível?
─ Que nada! Já projetei novo modelo de casa para o João de Barro. Inventei um jeito de domesticar piolho.
─ O que você está falando, menino? Já estou ficando cansada de ouvir tantas asneiras. Você ta ficando é louco!
─ Louco não, mãe! Tô cansado!
2 comentários:
Esse menino é um caso de poesia...
Ma-ra-vi-lho-so!
Abraço :)
Que meu filho não leia seu texto! Já pensou se a moda pega?
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