Conversa de botequim
(Autor: Carlúcio O. Bicudo – registro 367524 – livro 4 A)
- Bom-dia, Geraldo? Tudo bem com você?
- Mas ou menos, Alfredo.
- Pela sua expressão, estou vendo que a coisa não anda boa para o seu lado. O que foi que ouve?
- Caro amigo... Lá onde moro a bandidagem está de mais. Todo dia, tem um presunto na esquina... Minha mulher anda dizendo que irá me largar, caso eu não arrume um outro canto para morarmos.
- É, esses bandidos tomaram conta mesmo da nossa cidade, Geraldo.
- E para piorar a situação, estou desempregado, Alfredo.
- Putz... Estou vendo que as coisas não estão nada fáceis para o teu lado. Mas, mantenha calma que tudo irá se arranjar.
- Arranjar? Como Alfredo? Sem emprego e sendo ameaçado de separação? A nega lá em casa, não dá mole não. Quando ela bate o pé! Sai de baixo, porque vem chumbo grosso.
- Tá mesmo difícil para o teu lado amigo.
- Minha vida, está mesmo um caos, Alfredo.
- Traga mais uma cerveja. – pediu Alfredo ao dono do bar.
- Alfredo, não peça mais. Não vou poder dividir a despesa com você hoje.
- Calma, Geraldo... Hoje a cerveja é por minha conta.
- Sabe, Alfredo, para completar a minha desgraça. A minha filha de 15 anos está grávida do primo de 17 anos. E tudo sobra na minha costa. Agora vou ter mais duas bocas para alimentar. O cabra do meu sobrinho não é chegado a trabalho. Ele só pensa em ser jogador de futebol.
- Mas, ao menos ele joga bem? Está treinando em algum time?
- Que nada, Alfredo! Ele joga num timinho de terra batida lá perto de casa. Só faz firula e nada mais. E o pior, o pai do desgraçado disse: “Quem mandou você não prender a sua cabrita que estava no cio. O meu bode crio solto!”
- Nossa senhora! E você ainda teve que aguentar isso?
- Quase que voei na goela dele, mas recuei, ao lembrar que o safado é cria do Maurinho Bacurau, o maior traficante do bairro. Sabe como é, desafeto de bandido, veste mais cedo o paletó de madeira. Ainda sou muito jovem para visitar São Pedro... rsrs.
- Agora, os bandidos entraram numa de querer expulsar alguns moradores de pontos estratégicos para eles montarem suas fortalezas.
- Poxa! Amigo, sua vida está realmente de cabeça para baixo. – disse Alfredo.
- E o pior de tudo, a minha nega, agora resolveu fazer greve de sexo. Enquanto eu não arrumar uma outra casa em outro bairro. Ando na maior secura. Rsrs...
- Porra! Amigo... Não sei o que te falar... Mas acho que você anda precisando passar num terreiro para se benzer.
- Ué! Tá pensando que eu não fui. Já estive lá no centro da cabocla Jurema... Ela disse: que em 7 dias minha mulher estaria de boa comigo...
- Mas deu certo, Geraldo?
- Deu nada! É por isso que estou aqui enchendo a cara. Quando você chegou... Eu já tinha tomado umas 5 doses de pinga. Preciso afogar as mágoas. Só assim, esqueço temporariamente as mazelas da minha vida.
- É, companheiro... Não sei como aliviar a tua dor. Só posso te acompanhar na cerva, e te ouvir desabar. Se é que isso adianta como consolo. Rsrs.
Fim
4 comentários:
Que venham mais crônicas...mais Haikais, contos, poemas...mais...
Sempre é um prazer ler seus textos, Carlucio!
Abraço :)
Parabéns, Carlúcio! Excelente espaço na web para curtirmos bons textos.
é uma cronica ou fato verdadeiro rsrsrs muito bom professor escrevendo bem como sempre!
Uma verdadeira história.
A vida nos seus detalhes mais intensos, mas engraçado tambem, o cabra era pé frio, tudo de ruim aconteceu com ele...rsrsrsrsrsr
abraços.
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