terça-feira, 26 de maio de 2009

Ciclo de Festas Juninas.




SANTOS PADROEIROS

As verdadeiras festas juninas no Rio Grande do Sul estão ligadas ao solstício de inverno e são festas importantes no calendário gaúcho, com grande significado, porque mobilizam as comunidades que, de certa forma, evidenciam suas devoções e aproveitam tais momentos para grande congrassamento social. Em muitos rincões do Estado, principalmente no ambiente simples do nosso homem do campo, as festas de maior significado na comunidade continuam sendo as comemorações dos Santos Padroeiros.

Os Santos Padroeiros do Ciclo Junino são comemoradas de formas distintas nas seguintes datas do mês de junho: 13 – Santo Antônio; 24 – São João; 29 – São Paulo e São Pedro. Conforme orientações da Igreja Católica, os “santos devem ser cultuados na igreja, de acordo com a tradição, pois as Festas dos Santos Juninos pregam as maravilhas de Cristo operadas em seus servos e mostram os exemplos a serem seguidos”.

Os presságios (sortes e crendices) caracterizam as festas juninas, geralmente versam sobre casamento, amor, felicidade, viagens ou mortes. Estas adivinhações, ainda vigentes no Rio Grande do Sul, são reminiscências vivas, indiscutíveis e verdadeiras dos cultos agrários em convergência para uma tradição cristã.


SANTO ANTÔNIO

Santo Antônio é o santo casamenteiro, aquele que tradicionalmente protege o amor, arranja um companheiro ideal para os que vivem sós. O normal é se fazer a festa de Santo Antônio no dia que lhe é consagrado no calendário gregoriano, acendendo a fogueira no entardecer do dia 13 e, a partir daí, realizando as costumeiras provas de amor, de jogo de prendas e salto sobre as brasas. Atualmente, observamos a tendência de se comemorar o dia de Santo Antônio no Dia dos Namorados, ou seja, dia 12 de junho, sob a inspiração comercial.


CRENDICES DE SANTO ANTÔNIO

Apesar de uma postulação de uma data dedicada para este Santo, os apelos a Ele não se restringem somente ao dia consagrado. Santo Antônio é invocado diariamente. Geralmente as orações dos fiéis constituem preces peditórias ao “Santo Casamenteiro“, mas a força deste Santo também é muito usada especialmente para encontrar coisas perdidas, inclusive através da poderosa oração “Responsório de Santo Antônio”, muito difundida em todo Rio Grande do Sul.
Muitas orações a Santo Antônio são encontradas no cemitério, embaixo de bancos nas Igrejas, como também em locais abertos, ou seja, em praças, onde geralmente são colocados em baixo de pedras.
Algumas mulheres angustiadas por não encontrarem casamento, submetem o Santo Antônio à “situação de castigo”, virando – o de cabeça para baixo, afogando –o no poço ou enforcando – o até que Ele faça aparecer um provável candidato.


SÃO JOÃO

É a festa junina mais popular no Estado, com os gaúchos acendendo fogueiras em incontáveis municípios. São João é o santo mais festejado socialmente no Rio Grande do Sul e em todo o Brasil, também é considerado o santo protetor / padroeiro das mulheres grávidas. É comemorado no dia 24 de junho, com fogueiras acesas em todos os rincões para recordar o seu nascimento. São João Batista era primo de Jesus Cristo. Segundo a crença popular, era um pregador intolerante e áspero. No entanto, São João é cultuado pelo povo como um santo amável, alegre e festeiro.

Conta a lenda que “Santa Izabel, mãe de São João era prima da Virgem Maria. São João não havia nascido ainda, mas era esperado. Ora, Santa Isabel prometeu à Virgem avisá-la logo que criança nascesse. As duas casas não eram muito distantes, de modo que de uma se avistava a outra, com um pouco de esforço.

Numa noite bonita, de céu estrelado, São João veio ao mundo. Para avisar a Virgem, Santa Isabel mandou erguer, na porta de sua casa, um mastro e acendeu uma fogueira que o iluminava. Era o aviso combinado.

A Virgem Maria correu logo a visitar a prima. Levou-lhe de presente uma capelinha, um feixe de folhas secas e folhas perfumadas para a caminha do recém –nascido”.
(lenda sem fundamentação da Bíblia católica)

E desde essa época, São João é festejado com mastro, fogueira e capelinha, que lembram o seu nascimento.

A roupa adequada para essa ocasião é a “gauchesca de festa”. A comida é galinha frita, assada ou com arroz, batata-doce, pinhão, preparado de vária maneiras, o amendoim, a pipoca, a cangica, os doces campeiros. Assar churrasco, ainda nas brasas da fogueira, seria um desrespeito ao santo. Bebe-se cachaça, quentão, jacuba ou capilé.

FOGUEIRAS

O mestre folclorista brasileiro Renato Almeida, em sua obra Manual de Coleta Folclórica, assim se expressa: “O fogo é purificador e a chama símbolo da ascensão da prece ou da própria alma ao céu. Daí sua importância nos cultos, particularmente no católico com toda a simblica das velas, das lamparinas e das tochas. O fogo é abençoado nas cerimônias pascais. É protetor mágico, pois tem o poder de afastar monstros noturno, pelo que selvagens e primitivos caminham de noite com tições em chama. É propiciatório e os festivais ígneos são dos mais velhos costumes da humanidade, onde muitas vezes se sacrificam homens e animais no fogo.”

...”O fogo se associa aos ritos agrários, em numerosas cerimônias relativas à fecundação, não só no reino vegetal, como no animal. As fogueiras, por exemplo, foram feitas como fertilizantes dos campos, onde tições eram plantados ou levados processionalmente. As nossas de São João e de outros Santos representam a cristianização dos ritos”.

O fogo acompanha a vida do ser desde os primórdios da humanidade e está relacionado, entre outros, com um sentido mágico, pois é uma das poderosas forças do universo. Sendo o fogo elemento tão importante na vida do homem, consegue-se compreender o quanto as crianças e adultos sentem-se atraídos pelas fogueiras acesas no Ciclo Junino.

A fogueira era uma maneira de certos povos do hemisfério Norte comemorarem a chegada da época das colheitas e o dia 24 de junho coincidia com o solstício do verão. Segundo alguns: “para eles a fogueira representava a fixação e a conservação da força do sol, um espantalho para as calamidades e os demônios”.

A brincadeira de “pular a fogueira” faz parte da tradição, sendo considerada um gesto, que traz sorte, principalmente no amor. Outro aspecto tradicional é caminhar descalço sobre as brasas. É um agrado ao santo, que não deixa os pés dos seus devotos queimados. Mas os devotos avisam: a fogueira não pode ser de pneu, tem que ser de lenha, madeira comum e só deve caminhar sobre as brasas quem tiver fé no Santo. A fogueira centraliza a festa, mesmo depois de extinta, os namorados, de mãos dadas, ainda pulam por cima de suas brasas.

O festeiro escolhido para comandar os festejos de qualquer um dos santos de junho, deve escolher um bom Capitão do Mastro e um bom Alferes da Bandeira, os quais organizarão a fogueira, tratarão da implantação do Mastro para a Bandeira e mandarão confeccionar (onde não existir) a própria Bandeira. É adequado, também fincar-se um pau-de-sebo no local da festa, para diversão da piazada.


ACENDIMENTO DAS FOGUEIRAS

As fogueiras são habituais nas festas juninas, mas cada uma delas tem características especiais. “O fogo é purificador e a chama é o símbolo da ascensão da prece ou da própria alma no céu. No meio urbano, as fogueiras são armadas em terrenos baldios, em combinação com os vizinhos de determinados quarteirões ou com os moradores de um bairro, juntamente com o Corpo de Bombeiros, Brigada Militar. As fogueiras são armadas e acesas como parte integrante da programação das Festas Juninas promovidas pelas diversas instituições. Assim:


SANTO ANTÔNIO: é conhecido como Santo Casamenteiro, é homenageado com uma fogueira de formato quadrangular, isto é, sua base é um quadrado, popularmente chamado de chiqueirinho.





SÃO JOÃO: tido como padroeiro das mulheres grávidas, é o santo festeiro. É homenageado com uma fogueira de formato cônico, o que significa ter uma base redonda.





SÃO PEDRO: padroeiro do Rio Grande do Sul, padroeiro / protetor dos pescadores. É homenageado com uma fogueira de formato triangular, isto é, a uma base triângulo.





MASTROS, BANDEIRINHAS E SÍMBOLOS LITÚRGICOS

A origem provável do mastro está ligada à reminiscência dos cultos agrários em cerimônias de agradecimentos à fecundação das sementes.

Sua caracterização, quanto à altura está relacionada com a fé. Quanto maior a altura, mais simboliza a grandeza da devoção do povo. Deve ser o mais perfeito e reto possível, traduzindo a correção dos princípios religiosos do “festeiro” e do “Capitão do Mastro”. Quanto à cor, poderá ter o tom natural, porém sem casca. Quando pintada, caiada de “branco” ou em cores geralmente em duas tonalidades, dispostos em listras (barras) horizontais. Alguns atendem para as cores simbólicas de cada Santo, estabelecidas pela liturgia da Igreja, ou seja, as normas religiosas.

Antigamente, usavam enfeitar ao longo do mastro com folhas verdes, espigas de milho, frutas e, em especial, laranjas e bergamotas, que, de acordo com a crendice popular, ficavam mais doce depois da noite de São Pedro.


BANDEIRINHAS

Com referência as bandeirinhas, devem ser de tecido liso, bordada com aplicações ou pintada com símbolos da liturgia católica ou com mensagens religiosas. As bandeirinhas são colocadas num quadrilátero de madeira ou metal, dando-se preferência à forma que permite girá – las ao redor do mastro.


SÍMBOLOS LITÚRGICOS

Os símbolos litúrgicos aparecem nas bandeirinhas.

As chaves do céu ou o peixe são símbolos litúrgicos ligado a São Pedro.

A flor do lírio ou o desenho de um coração é o símbolo litúrgico ligado a Santo Antônio.

A presença da concha com que lembra o batismo de São João Batista, ou ainda uma cruz envolta por uma banda branca com os dizeres: “Eis o cordeiro de Deus”, ou ainda a figura de um cordeirinho.

ELEMENTOS COMPONENTES DAS FESTAS JUNINAS

1. Mastro: levantamento, cantoria, música;
2. Fogueira: fogos de artifícios (orientações com a Brigada Militar, Corpo de Bombeiros) e
balões (sem fogos);
3. Rezas no altar do santo, onde “puxam” terços (velação);
Bailes, bandeirolas, enfeites, plantas;
4. Comes e bebes;
5. Procissão noturna;
6. Orvalhada ou lavagem do Santo;
7. Sortes e crendices;
8. Quermesse (leilões, jogos);
9. Pau-de-sebo;
10. Distribuição de pãezinhos (no dia de santo Antônio).

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